quinta-feira, 29 de julho de 2010

Tradição oral e história oral: revendo algumas questões.
















Começamos pela importância da tradição oral indígena para documentar tempos históricos onde não existem documentos escritos, pelo menos da parte dos indígenas.
Cada vez mais tem sido exigido pelos povos indígenas ser reavaliados a história das relações entre nativos e brancos, pois na sua visão está incorreto suas imagens e suas representações serem guiados pelo outro lado.
Os povos indígenas acreditam que a repetição oral de suas histórias será mais bem entendida, diferente do meio acadêmico que escrutinam suas fontes. O desafio está em conciliar os dois lados.


Abordagens históricas à análise da tradição oral.
Tradição oral – Bens materiais que ficaram do passado, ou outro vezes, o nome do processo pelo qual a informação é levada de geração a geração.
História oral – Método de pesquisa baseado em entrevistas de uma testemunha ocular do fato histórico.
Algumas abordagens:
1) No século XIX, os folcloristas europeus consideravam os relatos orais como coisas isoladas para colecionar.
2) Nessa formula surge com grupos de interesse que se apropriam de tradições indígenas, dizendo encontrar nelas espiritualidade ou conhecimento natural da ecologia.
Nas duas abordagens espera-se que problemas do estado moderno recebem respostas convenientes para os estados modernos vindo dos indígenas.


Apesar de alguns acadêmicos do século XIX se preocupar com o contexto social em que a tradição oral ocorre, contudo, interessavam pelo discurso do presente mais do que passado.
Em meados do século XX, os estruturalistas influenciados por Claude Lévi-Strauss que a tradição oral é expressões da mente humana, nada tem a ver com presente ou passado. São simbolicamente narrativas que atuam para tentar resolverem questões do
comportamento social que não podem ser resolvidas por causa de sua complexidade, isto é, não tem nada de real, pois a realidade está em nível mais profundo.
Outra estrutura deste século XX vincula a tradição oral aos movimentos políticos que usaram como interesse para acender o nacionalismo. Buscando reconstituir herança cultural perdida para unir a população por causa de suas origens. É usada como exemplo a Alemanha que esse nacionalismo floresceu unindo estados dispersos, e a China que no momento oportuno legitimou rebeliões contra o Império e depois foi sufocada pelo novo estado que fora criado.


Abordagens atuais á análise da tradição oral.
Atualmente a tradição oral é estudada sua formação como seu posicionamento, e pode ser vista como transmissões de conhecimentos. Não se pode comparar com a pesquisa acadêmica, pois diante de uma evidencia legitima pode possuir significados diferentes.
A história oral sobre o passado que já foi considerada limitada pelo seu caráter subjetivo, hoje se tornou uma virtude para entender os processos históricos através da vida de uma pessoa.
Neste entendimento temos duas abordagens:
1) Um focaliza a história social, a vida cotidiana e as contradições das relações de poder.
2) A outra se preocupa com a formação das narrativas e os seus meios usados para firmar seu discurso.


Vamos para alguns exemplos de observações em quatro contextos culturais:
1) Renato Rosaldo começou seu trabalho na Filipinas nos anos 70, pensando reconstruir a história desse povo usando fontes orais. Mas uma de suas contribuições foi demonstrar que pode ser prejudicada nossa capacidade de escutar o que está sendo dito. Segundo ele é um erro equiparar os depoimentos orais com documentos escritos, pois os depoimentos orais devem ser ouvidos no seu contexto. A advertência de Rosaldo é para que se estude o texto e não olhe através dele, em torno dele ou por trás dele.
2) Na Nova Zelândia, a historiadora Judith Binney resolveu comparar história dos maoris com os textos escritos dos pakehas, e sua maior conclusão que não há como acabar com as contradições entre história oral e escrita.
3) Trabalhando na África Oriental, David Cohen, verificou que deve haver um cuidado para não afirmar uma história oral, porque é inevitável o privilégio de classes ou clãs mais fortes, ou cujas tradições se assemelham mais as nossas. Fala também da memória que para alguns é mais escassa.
4) No fim dos anos 80 os chefes de algumas tribos decidiram defender seus direitos de terras na Suprema Corte de um mundo codificado com suas tradições orais. O juiz canadense negou valor da história oral como evidencia e se prendeu ao que havia de escrito para sua sentença.
O ponto em comum dos quatro exemplos é que em lugares diferentes a história oral tem peso diferente para suas sociedades.
Também devemos ser criteriosos sobre as tentativas de codificar essa história oral.


Instrução etnográfica: para onde nos conduz?
A tradição oral complica nossas perguntas quando olhamos para o discurso acadêmico, como ocidentais ficam perdidos diante de diferentes de tipos de evidencias para recriarmos o passado.
Quanto às questões indígenas ficarão as perguntas de quem faz a história legitima? Quem identifica os eventos que são importantes historicamente?
Há duas correntes que estudam a reconstrução da história indígena:
1) O estudo de sociedades autônomas de pequena escala é um erro porque está contraria ao sistema mundial em quais todas as economias estão inseridas.
2) A postura cultural construcionista oposta sugere que a cultura está sempre em processo por decorrência das condições externas.
A conclusão vem do antropólogo Richard Lee que fala que um faz isso negando a existência das sociedades autônomas de pequena escala e o outro diz que suas histórias foram inventadas.


Resenha de Henrique Rodrigues Soares - Sobre parte do livro Uso e Abuso da História Oral de Janaina Amado